Invencível: que não pode ser derrotado; imbatível.
Após o Sporting ter sofrido a sua primeira derrota na Liga Portugal Betclic depois de 11 jornadas, apenas uma equipa permanece invicta, conquistando todas as vitórias nos jogos que disputou no campeonato – isto entre os clubes que já realizaram pelo menos dez partidas em 2024/25. Fundado em 1935, no distrito de Santarém, o Ferreira do Zêzere, clube que compete na primeira divisão distrital local, segue com um registo impressionante no campeonato.
Em dez jogos, o time da vila ribatejana conquistou dez vitórias, somando 30 pontos e liderando a 1ª divisão da distrital de Santarém. Um feito que até as equipas das principais ligas do país ainda não conseguiram alcançar.
Mário Nelson, treinador dos achigãs pela terceira temporada consecutiva, chegou ao clube vindo do CD Fátima – equipe que ascendeu ao Campeonato de Portugal na temporada passada, após conquistar o primeiro lugar, à frente do Ferreira, com apenas três pontos de vantagem.
«O trabalho vem sendo feito desde a temporada passada»
Com o segundo lugar conquistado na época anterior e uma vaga na Taça de Portugal, o técnico, natural de Torres Novas, reconheceu que o sucesso de 2024/25 é fruto do investimento feito no passado.
«Este é um trabalho que já vem sendo feito desde a época passada. Em 2024/2025 já temos dez vitórias no campeonato, duas na Taça do Ribatejo, uma na Taça de Portugal e depois fomos eliminados da prova no prolongamento – nem sequer perdemos no tempo regulamentar, tendo jogado cerca de 70 minutos com apenas dez jogadores», começou por explicar ao zerozero o treinador responsável por este feito.
Além das vitórias, o Ferreira do Zêzere é, neste momento, a melhor defesa e o melhor ataque da competição, com 29 gols marcados e apenas sete sofridos. O foco está em cada jogo, mas o mérito pelos números alcançados é compartilhado por todos no clube.
«Não pensamos em bater recordes, pensamos apenas em crescer como equipa. As coisas têm realmente corrido bem, mas é graças aos jogadores e a toda uma estrutura por trás. Nós apenas temos o privilégio de sermos a equipa técnica que lidera este grupo de trabalho, que, por sinal, é fantástico», acrescentou o treinador, de 44 anos.
«Ninguém estava à espera de termos já dez vitórias em dez jogos»
Filipe Cotovio
Surpresa. Este é o sentimento de todos os jogadores do plantel com os resultados obtidos. Filipe Cotovio, capitão da equipa, chegou ao clube em 2022 e acompanhou todo o processo de transição de uma época focada na luta pela manutenção para outra em que o objetivo é a subida.
«Os resultados têm surgido de forma natural, ninguém estava à espera de termos já dez vitórias em dez jogos. Começámos a trabalhar desde a pré-temporada e acho que ninguém tinha noção de que ia correr tão bem, até porque, nesses dez jogos, começámos a perder em quatro e conseguimos dar a volta. Isso também é um sinal de que a equipa está unida e trabalha contra todas as adversidades», contou o jogador.
Os jogos em questão foram contra o Amiense e o Abrantes e Benfica (quarta e quinta jornada), o Moçarriense, na primeira eliminatória da Taça do Ribatejo, e, por último, contra o Glória do Ribatejo, na oitava jornada do campeonato.
Primeira participação na Taça de Portugal
Graças ao excelente desempenho na temporada anterior, o Ferreira do Zêzere conquistou o que muitas equipas, especialmente das ligas distritais, almejam: a participação na Taça de Portugal.
A campanha, no entanto, não correu como esperado, e a eliminação chegou na segunda ronda, num confronto contra os Sandinenses. Apesar de o Ferreira ter jogado cerca de 70 minutos com apenas dez jogadores, a derrota aconteceu apenas no prolongamento. A vontade de avançar na competição e fazer história no clube foi grande, mas a eliminação deixou um sentimento de frustração.
«Nós queríamos competir e tínhamos aspirações de continuar a avançar. Infelizmente, ficámos pelo caminho na segunda eliminatória, mas a revolta e a tristeza por este resultado são enormes», explicou o treinador, que já havia participado desta competição em edições anteriores.
Embora os jogos não tenham sido disputados no estádio do Ferreira do Zêzere, devido às dimensões do campo não atenderem aos requisitos para competições nacionais, a equipa jogou “em casa”. Os adeptos estiveram presentes e criaram um ambiente vibrante, fazendo parte da festa da Taça.
«É um ambiente diferente do campeonato, são jogos a eliminar e queremos ganhar. Tivemos grandes atmosferas, não jogámos na nossa casa, mas trouxemos muita gente de cá, assim como os adversários, e sem dúvida foi um ambiente espetacular para jogar», afirmou o capitão da equipa.
Foco e determinação para o que falta jogar
A derrota na Taça de Portugal não afetou em nada o ânimo dos achigãs. As vitórias no campeonato e na Taça do Ribatejo continuaram, e a motivação seguiu forte em todo o plantel.
«Esse revés serviu para unir ainda mais o grupo, para fortalecer a nossa mentalidade e para reagirmos melhor às adversidades», explicou o treinador.
“Quanto mais ganhas, mais as pessoas querem que tu ganhes”
A pressão da vitória, a expectativa daqueles que acompanham o percurso da equipa e o compromisso de vencer cada jogo. Mário Nelson deixou claro que não se deslumbra com nenhum resultado.
«Quanto mais ganhas, mais as pessoas querem que tu ganhes. E, às vezes, não basta ganhar, mas sim golearmos e sermos cada vez melhores. Não me deslumbro com nenhuma vitória, nem olho para recordes; o que me importa é o crescimento e a consistência da equipa», afirmou.
“O nosso campo não é adequado para competições nacionais…”
O objetivo da equipa para o restante da temporada é claro: vencer jogo a jogo, sem pensar nas possíveis consequências futuras para o clube.
«O nosso objetivo não é ser campeões distritais, até porque o nosso campo não tem as condições necessárias para competições nacionais, e queremos continuar perto dos nossos adeptos. No momento, os pontos que temos sequer garantem a nossa manutenção», refletiu o treinador.
As ideias entre a equipa técnica e os jogadores estão perfeitamente alinhadas: todos com o mesmo foco, o mesmo objetivo e, principalmente, com a mesma mentalidade para esta temporada. Isso reflete-se diretamente no desempenho no campo.
«Temos a capacidade de vencer o campeonato e sabemos da qualidade que temos. Queremos ganhar todos os jogos e a direção também está alinhada com esse objetivo. Se conseguirmos o título e subirmos ao Campeonato de Portugal, aí sim, o clube precisará fazer melhorias para conseguirmos jogar naquele campo», comentou Filipe Cotovio, de 27 anos.
Desejo de vencer, união e paixão pelo futebol. Estes têm sido os pilares principais de uma época que começou de forma impecável para um clube da distrital. Esse amor e dedicação por parte do treinador inspiram-no a ter como referências figuras proeminentes do futebol português.
«Como sou um verdadeiro apaixonado pelo treino e pelo jogo, identifico-me muito com o Jorge Jesus e com o Sérgio Conceição, talvez pela intensidade com que vivo os jogos e todo o processo de treino», revelou o técnico. Uma coisa é certa: essa paixão é transmitida diariamente ao plantel e reflete-se nas boas performances da equipa.